10 novembro 2006

CORAÇÃO


Tenho necessidade de vida. Preciso de respostas em caráter de urgência. Sinto o mundo como se ele fosse acabar. Ali. Logo ali.
Minhas palavras rápidas. Minhas idéias malucas. Meu querer intenso. Meus textos de coração. Coração em fibrilação. Coração em ataque. Coração em silêncio. Coração.
Meus dias passam rápido. Minhas horas acabam e recomeçam. Sempre mudando. Sempre querendo mais.
Aprendi a crescer. Mas não perdi a criança dentro de mim. Aprendi a sonhar. Mas sem tirar os pés da realidade. Aprendi a Amar, e a me perder de mim. E a me achar.
Nem que pra isso eu leve uma vida. Uma eternidade. Nem que eu precise comprar mil tubos de cola instantânea, para juntar todos os pedacinhos do meu coração e recomeçar. Nem que eu me transforme em mil palavras de um anagrama - que sempre levem a mim e a você.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ontem enquanto assistia no Multishow o 'Tributo a Cazuza', que reúne varios artistas como: Paula Toller, Ney, Frejat, Arnaldo Antunes .. e tantos outros.. eu pensava em você. Nesse seu jeitinho tão especial, puro. Uma criança grandona.

Você é uma pessoa muito especial.

Sobre a caligrafia
Arnaldo Antunes
20/03/2002

Caligrafia.
Arte do desenho manual das letras e palavras.
Território híbrido entre os códigos verbal e visual.
— O que se vê contagia o que se lê.
Das inscrições rupestres pré-históricas às vanguardas artísticas do século XX.
Sofisticadamente desenvolvida durante milênios pelas tradições chinesa, japonesa, egípcia, árabe.
Com lápis, pena, pincel, caneta, mouse ou raio laser.
— O que se vê transforma o que se lê.
A caligrafia está para a escrita como a voz está para a fala.
A cor, o comprimento e espessura das linhas, a curvatura, a disposição espacial, a velocidade, o ângulo de inclinação dos traços da escrita correspondem a timbre, ritmo, tom, cadência, melodia do discurso falado.
Entonação gráfica.
Tais recursos constituem uma linguagem que associa características construtivistas (organização gráfica das palavras na página) a uma intuição orgânica, orientada pelos impulsos do corpo que a produz.
Assim como a voz apresenta a efetivação física do discurso (o ar nos pulmões, a contração do abdómen, a vibração das cordas vocais, os movimentos da língua), a caligrafia também está intimamente ligada ao corpo, pois carrega em si os sinais de maior força ou delicadeza, rapidez ou lentidão, brutalidade ou leveza do momento de sua feitura.
A irregularidade do traço denuncia o tremor da mão. O arco de abertura do braço fica subentendido na curva da linha. O escorrido da tinta e a forma de sua aborção pelo papel indicam velocidade. A variação da espessura do traço marca a pressão imprimida contra o papel. As gotas de tinta assinalam a indecisão ou precipitação do pincel no ar.
Rastos de gestos.
A própria existência de um saber como o da grafologia, independentemente de sua finalidade interpretativa sobre a personalidade de quem escreve, aponta para a relevância que podem ter os aspectos formais que, muitas vezes inconscientemente, constituem a "letra" de uma pessoa.
O atrito entre o o sentido convencional das palavras (tal como estão no dicionário) e as características expressivas da escritura manual abre um campo de experimentação poética que multiplica as camadas de significação.
Além disso, suas linhas, curvas, texturas, traços, manchas e borrões, mesmo que ilegíveis, ou apenas semi-decifráveis, podem produzir sugestões de sentidos que ocorrem independentemente do que se está escrevendo, apenas pelo fato de utilizarem os sinais próprios da escrita.
O A grávido de O.
Érres e ésses atacando Es.
A multiplicação de agás.
Rios de Us e emes e zês.
Esqueletos de signos fragmentados.
Dança de letras sobrepostas possibilitando diferentes leituras.
Paisagens.
Horizontes ou abismos.

Um Beijo,