09 novembro 2006

JUST PLAY THE GAME


Nós estamos ainda no começo. O grande jogo da Medicina. Você aprende que, além de humano, precisa ser um bom jogador. Estudar muito. Tentar se a melhor ou o melhor. Lutar sempre. Pela vida, pelo paciente, por você e por seus colegas. Lutar para nunca esquecer quem você é. Lutar para se lembrar dos seus limites. Ser, acima de tudo, humano. Você precisa. Pois está sendo testado. Um teste de resistência. Sua escolha. Aprendizado do crescimento. Um convite: A ser. A conviver.

Nem sempre é fácil. Você vai se sentir enganado. Vai se sentir fraco. Vai se ver impotente. Vai desejar não ter desejado. Vai pensar em desistir. Vai lutar um pouco mais. Você é um lutador. E não desiste das coisas facilmente. Lembre-se disso.
Semana passada, fui a casa de um paciente Diabético fazer um cadastro para nossa pesquisa. PIESC. Programa de Integração Escola Serviço e Comunidade. Uma pessoa ótima. Sentamos e, o que era um monte de dados, se tornou uma boa conversa de alguns minutos. Eu conheci todos os passarinhos da casa, vi as fotos da esposa e filhos. Ele me ofereceu mil merendinhas - e eu toda educada recusei (interior tem dessas coisas que a gente tá meio desacostumado na cidade). Foi bem interessante o dia.
Nessa terça, voltei a casa dele para convidá-lo à oficina de Diabetes. Ele não estava. Tinha ido no posto.
Conheci a esposa. Conversamos. E eu nem ía demorar. De repente, ela me conta que o meu paciente todo cheio de vida, todo alegre, todo super-simpático tinha vários "quistos"(estômago, cólon, rim, pulmão, pâncreas). Para quem saiu de um Módulo de Proliferação Celular. Quase perdi o chão. Metástase. E eu pensava: "o que eu posso fazer agora, meu Deus?!", "O que dizer?!"
A única coisa que veio na mente foi: Roberta, tente se colocar no lugar dela. Ela precisa de força e de carinho. Uma hora delicada.
A esposa aproveitou a saída do Marido para chorar. Consolei. Talvez não tenha feito da melhor maneira. Mas tentei fazer o meu melhor. Não conseguia imaginar como ele, tão forte, tão alegre estava prestes a morrer. E eu ali. Perdendo ele. E nem sabia o que falar nem para mim mesma, quanto mais àquela senhora. E eu detesto perder as pessoas. Detesto.
Aquilo mexeu comigo. Passei a me perguntar quando a gente tem que deixar de se envolver tanto com as pessoas. Porque eu me envolvo bastante. E crio laços. E faço planos. E sonho. Como deixar de ser humana?!
Eu me senti impotente. Não há esperanças a dar. Apenas me vi com a única alternativa de fortalecer aquela senhora, para que ela pudesse agradecer tudo o que viveu até ali e tentasse viver o tempo que faltava com Alegria.
Á tarde, quando cheguei à USF, o vi na sala da Oficina. E fiquei ali. Feliz. Como se tivesse recebido o tão esperado presente de papai-noel. Meus olhos brilhavam. Eu, por um momento, GANHEI. Venci aquela doença. Ele apertou a minha mão. Parecia um abraço de luz. Ouvi ele dizer: "Eu vim aqui para ver a Sra. Dra!... como poderia deixar de comparecer? Minha velha disse que gostou muito da Senhora." As palavras soaram como um troféu. E eu fiquei no silêncio delas, comovida e feliz - apesar de...
A madrugada foi longa e o pensamento não parava um segundo até que - recebi uma msg - que acabou consolando a mim - sobre SER HUMANO:
"Isto eh o que ha de melhor em nós. Qdo se perde não sofre, mas não tem alegria - o que não deixa de ser um sofrimento. Bjos!"
Isso me faz pensar que: PODE ATÉ SER UM JOGO... MAS TEM MUITA VIDA NO CAMINHO!!!

2 comentários:

Anônimo disse...

Roberta, me envolvi tanto com tudo o que você escreveu, que no final percebi meus olhos cheios de lagrimas. Você é uma pessoa linda mesmo. Em todos os sentidos ..

Você é um presente de Deus para os que te cercam.

Um beijo no seu coração,

A silenciosa disse...

É... Joaquim! A gente começa a aprender aos poucos o que é essa função. E nunca deixa de se envolver qdo o coração quer. Obrigada, pelas palavras. Fiquei feliz.

Alfredo... vc tb! Beijo.